Dei uma passada no blog do Zeca Camargo ontem e encontrei este texto sobre Madonna e REM, dois artistas que eu adoro e que estão completando 25 anos de carreira. Para ler a parte que o Zeca fala sobre o REM, entre outras coisas, basta acessar um poderoso link abaixo deste texto.
"...Então vamos à tal cantora e à tal banda que estão comemorando 25 anos de carreira com novos trabalhos, e que provam que é possível sim, pelo menos no pop, envelhecer com dignidade. A cantora - “dã!” - é Madonna. Pelo próprio barulho que ela própria fez nas últimas semanas com seu “Hard candy”, ficou fácil de descobrir. Mesmo imaginando que, com uma carreira de um quarto de século (adoro colocar dessa maneira… parece tão mais tempo do que “25 anos”…), ela tenha fãs que nem eram nascidos quando do lançamento do seu primeiro disco, qualquer busca por “Madonna discografia” revela que sua estréia foi em 1983. Nessa época, óbvio, eu era não apenas nascido, como já tinha acumulado malícia o suficiente para entender o que a cantora queria dizer com “Everybody, c’mon and do your thing”, no seu primeiro sucesso.
Oficialmente, “Everybody” é de 1982. Hoje um “hit” esquecido, fica talvez difícil, para as novas gerações, entender o quão poderosa essa música era na pista de dança. Não só poderosa, mas diferente - de uma minimalismo que só seria superado anos depois com a inigualável parceria entre Missy Elliot e Timbaland. “Everybody” teria sido, porém, só uma novidade passageira, se logo em seguida não viessem outros sucessos que são, até hoje, clássicos: “Holiday” e “Borderline”. Na “febre Madonna” que tomou conta de todas as FMs da época, era sempre possível ouvir essas três faixas se revezando com outras do mesmo álbum de estréia - “Lucky star”, “Burning up”, “Physical attraction”-, de maneira que, mesmo antes de ela lançar “Like a virgin”, em 1984, Madonna já tinha sua reputação consolidada.
Por falar em “Like a virgin”… Não, não se preocupe: não vou fazer uma “discografia comentada” da cantora - algo que exigiria um fôlego do qual nem eu nem você podemos dispor agora. Aqui e ali neste blog, já pincelei momentos em que “nossa vida” se cruzou (basta digitar o nome dela no espaço “busque neste blog”, aqui à direita, para conferir) - e, para os mais interessado, no meu livro “De a-ha a U2″ descrevo em detalhes como foi meu único encontro cara a cara com ela. Nesses 25 anos, posso dizer que acompanhei Madonna com devoção suficiente para não deixar dúvidas o quanto a admiro - e, por isso mesmo, tenho fortes opiniões sobre cada um de seus álbuns e “singles”. Mas vamos pular essas duas décadas e meia para falar de “Hard candy”, seu genial - ainda que ligeiramente confuso - trabalho mais recente.
Você provavelmente ficou um pouco incomodado com o “ligeiramente confuso” do parágrafo anterior. Explico: ouvi “Hard candy” mais de uma vez, e não exatamente pelo prazer que as faixas me ofereciam. Elas são ótimas, em sua maioria, e oferecem sim aquela já esperada recompensa com a qual Madonna já acostumou seus fãs. O que me empurrou para as audições repetidas foi mais uma vontade de tentar entender para onde as músicas estavam apontando - quais eram as saídas para o pop que ela propunha dessa vez. Afinal, ela sempre vem com suas “descobertas musicais”, como se, a cada álbum, ela pescasse um produtor de vanguarda e proclamasse: “É por aqui!”. Só que, dessa vez, como descobri depois de me debruçar sobre “Hard candy”, Madonna está apontando “para trás”!
E essa é a “ligeira confusão” que ela propõe. Começando com “Candy shop” (a primeira faixa, que é, para mim, uma das melhores) ou com a seguinte, “4 minutes” (que é a faixa de trabalho), as pistas musicais são desorientadoras. “4 minutes” especialmente, já que a presença de Justin Timberlake (o chamado Michael Jackson do século 21) remete a um “rhythm & blues” “circa” 2000/2002, que não é exatamente moderno - sem falar que a introdução da música é, incomodamente, a parte mais interessante dela. Vindo logo depois de “Candy store”, que insinua novidades, “4 minutes” funciona como um agradável anestésico, que te coloca apto - ou apta - a aceitar o que vem pela frente.
Na faixa seguinte, “Give it to me”, tive a certeza de que Madonna queria olhar para o passado, mas não de maneira óbvia. Por exemplo, um pouco mais adiante, em “Miles away”, o convite para adivinhar à qual fase da sua própria carreira ela se refere - não fosse tão divertido se perder nesse labirinto auto-referente. Entre essas duas faixas, a música mais sensual de todo o disco, “Heartbeat”- e quando digo “sensual”, não estou evocando a Madonna de “Erotica”, mas aquela de “Ray of light”, que sabe que o erotismo não necessariamente está na palavra, mas sim no ritmo… E ainda tem “She’s not me” - talvez o “saco de referências” mais completo de todos deste álbum (se não me engano, tem até aquelas cordas de “Kiss”, do Prince, na mistura).
Na segunda metade do CD (sou velho - já frisei bem aqui! - e tenho esse estranho hábito de escutar um disco do começo ao fim), Madonna recorre a velhas fórmulas, em nuances menos ousadas. Com exceção de “Incredible” (que me parece realmente original), ela oferece baladas (”Devil wouldn’t know it”), ritmos latinos camuflados (”Spanish lesson”), uma canção para cantarolar junto com seu iPod (ela era boa nisso mesmo antes dessa geringonça existir - vide “La isla bonita”), e até um típico “filler” - faixa que não acrescenta nada, mas está lá para “encorpar” o disco -, em “Dance 2 night”.
Porém, ressaltando a parte mais interessante do CD, é curioso notar que, mesmo com essa enxurrada de referências “retrô”, “Hard candy” oferece uma sensação de frescor mais genuína do que a maioria das debutantes do pop dos últimos cinco anos (você sabe quem são…). Como disse o sempre instigante Jon Pareles recentemente no “New York Times”, Madonna está de volta para “revitalizar a marca”. Mas, para aproveitar seu novo trabalho, não fique procurando referências como esse fã teimoso - que quase perdeu a chance de gostar de “Hard candy” pelo simples fato de ele ser um ótimo disco..."
http://colunas.g1.com.br/zecacamargo/
"...Então vamos à tal cantora e à tal banda que estão comemorando 25 anos de carreira com novos trabalhos, e que provam que é possível sim, pelo menos no pop, envelhecer com dignidade. A cantora - “dã!” - é Madonna. Pelo próprio barulho que ela própria fez nas últimas semanas com seu “Hard candy”, ficou fácil de descobrir. Mesmo imaginando que, com uma carreira de um quarto de século (adoro colocar dessa maneira… parece tão mais tempo do que “25 anos”…), ela tenha fãs que nem eram nascidos quando do lançamento do seu primeiro disco, qualquer busca por “Madonna discografia” revela que sua estréia foi em 1983. Nessa época, óbvio, eu era não apenas nascido, como já tinha acumulado malícia o suficiente para entender o que a cantora queria dizer com “Everybody, c’mon and do your thing”, no seu primeiro sucesso.
Oficialmente, “Everybody” é de 1982. Hoje um “hit” esquecido, fica talvez difícil, para as novas gerações, entender o quão poderosa essa música era na pista de dança. Não só poderosa, mas diferente - de uma minimalismo que só seria superado anos depois com a inigualável parceria entre Missy Elliot e Timbaland. “Everybody” teria sido, porém, só uma novidade passageira, se logo em seguida não viessem outros sucessos que são, até hoje, clássicos: “Holiday” e “Borderline”. Na “febre Madonna” que tomou conta de todas as FMs da época, era sempre possível ouvir essas três faixas se revezando com outras do mesmo álbum de estréia - “Lucky star”, “Burning up”, “Physical attraction”-, de maneira que, mesmo antes de ela lançar “Like a virgin”, em 1984, Madonna já tinha sua reputação consolidada.
Por falar em “Like a virgin”… Não, não se preocupe: não vou fazer uma “discografia comentada” da cantora - algo que exigiria um fôlego do qual nem eu nem você podemos dispor agora. Aqui e ali neste blog, já pincelei momentos em que “nossa vida” se cruzou (basta digitar o nome dela no espaço “busque neste blog”, aqui à direita, para conferir) - e, para os mais interessado, no meu livro “De a-ha a U2″ descrevo em detalhes como foi meu único encontro cara a cara com ela. Nesses 25 anos, posso dizer que acompanhei Madonna com devoção suficiente para não deixar dúvidas o quanto a admiro - e, por isso mesmo, tenho fortes opiniões sobre cada um de seus álbuns e “singles”. Mas vamos pular essas duas décadas e meia para falar de “Hard candy”, seu genial - ainda que ligeiramente confuso - trabalho mais recente.
Você provavelmente ficou um pouco incomodado com o “ligeiramente confuso” do parágrafo anterior. Explico: ouvi “Hard candy” mais de uma vez, e não exatamente pelo prazer que as faixas me ofereciam. Elas são ótimas, em sua maioria, e oferecem sim aquela já esperada recompensa com a qual Madonna já acostumou seus fãs. O que me empurrou para as audições repetidas foi mais uma vontade de tentar entender para onde as músicas estavam apontando - quais eram as saídas para o pop que ela propunha dessa vez. Afinal, ela sempre vem com suas “descobertas musicais”, como se, a cada álbum, ela pescasse um produtor de vanguarda e proclamasse: “É por aqui!”. Só que, dessa vez, como descobri depois de me debruçar sobre “Hard candy”, Madonna está apontando “para trás”!
E essa é a “ligeira confusão” que ela propõe. Começando com “Candy shop” (a primeira faixa, que é, para mim, uma das melhores) ou com a seguinte, “4 minutes” (que é a faixa de trabalho), as pistas musicais são desorientadoras. “4 minutes” especialmente, já que a presença de Justin Timberlake (o chamado Michael Jackson do século 21) remete a um “rhythm & blues” “circa” 2000/2002, que não é exatamente moderno - sem falar que a introdução da música é, incomodamente, a parte mais interessante dela. Vindo logo depois de “Candy store”, que insinua novidades, “4 minutes” funciona como um agradável anestésico, que te coloca apto - ou apta - a aceitar o que vem pela frente.
Na faixa seguinte, “Give it to me”, tive a certeza de que Madonna queria olhar para o passado, mas não de maneira óbvia. Por exemplo, um pouco mais adiante, em “Miles away”, o convite para adivinhar à qual fase da sua própria carreira ela se refere - não fosse tão divertido se perder nesse labirinto auto-referente. Entre essas duas faixas, a música mais sensual de todo o disco, “Heartbeat”- e quando digo “sensual”, não estou evocando a Madonna de “Erotica”, mas aquela de “Ray of light”, que sabe que o erotismo não necessariamente está na palavra, mas sim no ritmo… E ainda tem “She’s not me” - talvez o “saco de referências” mais completo de todos deste álbum (se não me engano, tem até aquelas cordas de “Kiss”, do Prince, na mistura).
Na segunda metade do CD (sou velho - já frisei bem aqui! - e tenho esse estranho hábito de escutar um disco do começo ao fim), Madonna recorre a velhas fórmulas, em nuances menos ousadas. Com exceção de “Incredible” (que me parece realmente original), ela oferece baladas (”Devil wouldn’t know it”), ritmos latinos camuflados (”Spanish lesson”), uma canção para cantarolar junto com seu iPod (ela era boa nisso mesmo antes dessa geringonça existir - vide “La isla bonita”), e até um típico “filler” - faixa que não acrescenta nada, mas está lá para “encorpar” o disco -, em “Dance 2 night”.
Porém, ressaltando a parte mais interessante do CD, é curioso notar que, mesmo com essa enxurrada de referências “retrô”, “Hard candy” oferece uma sensação de frescor mais genuína do que a maioria das debutantes do pop dos últimos cinco anos (você sabe quem são…). Como disse o sempre instigante Jon Pareles recentemente no “New York Times”, Madonna está de volta para “revitalizar a marca”. Mas, para aproveitar seu novo trabalho, não fique procurando referências como esse fã teimoso - que quase perdeu a chance de gostar de “Hard candy” pelo simples fato de ele ser um ótimo disco..."
http://colunas.g1.com.br/zecacamargo/
Um comentário:
Ótimo!
:)
bjs
Postar um comentário