"Enquanto houver champanhe há esperança" (Zózimo)
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Sem uma verdade-conclusão, sigo escrevendo com paixão sobre tudo que absorve essa existência do cão.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mecanismos


Sigo escrevendo. Que prazer interminável! E isso significa que sou alguém que (ainda) tem algo a dizer. Ou melhor, alguém que não pára de pensar um segundo sequer. Era nisso que eu estava pensando antes de me sentar em frente à tela.

São lapsos inesgotáveis de memória, preocupações, saudades e dores. E coço a cabeça. Olho para meu mural gigante, com tantas Madonnas de tantas épocas. Cada um carrega uma porção camaleônica dentro de si. Voltei da faculdade e me dei conta de que não sou o mesmo de 2005, quando ingressei lá.

Mantive muitas características, é claro, mas até o jeito de falar mudou. Os cabelos também. Consegui lembrar do primeiro dia de aula. Eu estava usando uma camisa cinza, de um tom bem escuro, quase preto. Era mais magro, bem mais magro, aliás. Naquela época, eu não comia macarrão à carbonara à 1h da manhã, eu acho (risos).

Cozinhava menos também, mas sonhava mais. Idealizava mais. Ainda carregava uma ingenuidade que foi rapidamente corrompida pelos estágios que freqüentei e pessoas pouco iluminadas com as quais cruzei. É engraçado como vamos aprendendo tantos mecanismos de defesa. Lembro sempre da Karla: "são feridas que vão criando casquinhas, chega uma hora que você criou tantas, que acaba protegido".

Realmente, é difícil eu me surpreender com alguma coisa ou alguém hoje em dia. Não preciso de mais de dois dias para sacar uma situação ou um comportamento e visualizar aonde isso vai acabar.

Uma coisa importante: a memória costumava ser melhor também, naquela época. Às vezes, esqueço o que fiz há dois dias atrás. Não deixa de ser um desapego, gosto de encarar assim. Mas o que ficou lá trás é difícil de esquecer.

E são esses pensamentos que, volta e meia, surgem, sem cerimônia. Apenas acontecem e se repetem involuntariamente. Se eu queria voltar no tempo? Acho que não. Meu presente é reflexo do meu passado. Se voltasse no tempo, costruiria outras coisas e teria que lidar com elas agora. Seria como trocar seis por meia dúzia.

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