"Enquanto houver champanhe há esperança" (Zózimo)
Minha foto
Rio de Janeiro, Brazil
Sem uma verdade-conclusão, sigo escrevendo com paixão sobre tudo que absorve essa existência do cão.

domingo, 26 de outubro de 2008

Magia

Vultos pretos. Por toda a parte. Por que fico enxergando essas coisas? Essa adivinhação toda? O que isso tem a ver com a derrota de Gabeira?

Desde cedo, quando sai com minha camisa verde de cogumelos azuis sabia que, mesmo com todo o verde das forças da natureza, seria difícil ver Gabeira como prefeito do Rio, minha segunda cidade, cidade que me recebeu e me absorve diariamente.

Mais do que isso. Senti a derrota se aproximando. Não que isso tenha sido uma premonição. Quanta pretensão. Não quero. É apenas mais uma entre tantas certezas diárias que, às vezes me surpreendem quando acontecem. A disputa foi acirrada, voto por voto. Eu acompanhei e gostei, com exceção do resultado, claro.

Não pensei que a profissão ainda fosse me surpreender com novos prazeres. A verdade é que eu estava esperando alguma coisa melhor. Não só no campo das expectativas. Eu tinha alguma certeza disso também.

É como a música seguinte que vai tocar no meu player. Como não gosto de rotina e repetições me cansam, não consigo ouvir uma série de músicas sempre na mesma ordem. Quase nunca. Gosto de randonizar, ouvir um disco de outro jeito. O aparelho escolhe e eu adivinho. Quando está terminando uma faixa, o meu desejo praticamente transforma a próxima em realidade.

São poderes telepáticos. E não funcionam apenas com objetos sem "vida". Tenho lá minhas conexões com algumas pessoas. Mas, há objetos que têm vida a partir de um botão, por exemplo. A tecnologia não deixa de ser orgânica. Ela envolve, move-se, transforma. Com algum empurrãozinho humano, mesmo que baste apenas apertar uma tecla.

E quando não funciona, sai da órbita, não há porque se frustrar. A menos que já tenha idealizado demais. Se consegue flutuar de acordo com os gases na banalidade, o vôo é mais estável. O que não impede que haja turbulência no processo. Houve sol. Horário de verão e um afogamento na praia.

Não reclamei da ausência de pelo menos uma gota de sol. Eu cheguei e ele já tinha se escondido de mim. Mas o mar continuou no mesmo lugar com suas ondas. Uma estava reservada a banhar este corpo tão necessitado de uma lavagem de alma providencial. E assim o destino deu seu jeito de ajustar. Com mágica, é claro.

sábado, 25 de outubro de 2008

Madrugada, meu bem

Madrugada?
Tudo bem
Gargalhada?
Também
Eco de silêncio,
Espírito do bem
Saudade do futuro,
Amanhã tem
Peito aliviado?
Pra quem?
Sono desgraçado,
Vai além
Paixão?
Ninguém
Vida renovada,
Amém!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Na sexta-feira

É como se nada pudesse atingir, ainda que exista um tantinho de receio lá no fundo. Desapareceu e não retornou. Melhor não fazer muito alarde sobre isso. E não cavucar demais os pensamentos.

Amanhã é sábado e eu trabalho. Depois trabalho domingo, segunda, terça... e só terei folga na sexta-feira à noite (da semana que vem). Por isso, todo tipo de sensações podem ocorrer durante estes dias. E me permito a todas elas.

O sol da sexta-feira ainda é o mais perfeito. A cidade continua linda e (ainda) não possui coisas-bomba, sabe como? Homem-bomba, carro-bomba, avião-bomba, agora existe burro-bomba também.

É possível transitar com algum sossego por esse Rio de Janeiro tão necessitado de dias quentes de sol. E noites abafadas. Essa temperatura mexe com tudo. O corpo, a alma e... os desejos. Até com os computadores, que suam as suas CPUs e esquentam o rabo dos monitores.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Dias bipolares

Fora toda a inconstância do clima - quente demais ou chuvoso demais - há uma dualidade pairando em toda parte. Essa alternância tão esquista de humores. Tantos momentos, sensações. A hora custa a passar, mas, em alguns momentos, passa depressa demais também.

Olho para o relógio do computador e sei que quero sair. Está quase na minha hora. Um dia que começou com promessas positivas não fluiu como se esperava. Não é uma questão de expectativa apenas. Não funcionou. A angústia não se desfez. Que agonia! Um desconforto tão agudo, o peito tão pesado ainda.

Será que vai demorar muito a passar? Vou atravessar a rua para ver como fica. Talvez uma mudança de ambiente seja favorável. Trocar esse frio fake de ar condicionado pela ausência de brisa que está lá fora. Um pouco de calor talvez resolva. É claro que vai passar. Uma hora vai! Como num passe de mágica. E pronto! Desapareceu... mas pode retornar.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Madrugada

O "silêncio" da madrugada. Não tem um cão sequer latindo agora. Ouço apenas a brasa do cigarro queimando e o barulho do ventilador. Esta é a verdadeira primeira noite de primavera/verão, como não negam os termômetros que acusaram plenos 34 graus no começo da tarde. A lua é cheia e brilha lá fora. O esplendor deve acontecer amanhã ou depois. Por dentro, eu fiquei vazio por um instante. Tudo que eu sei fazer ou devo fazer desapareceu. Não sei como. Criatividade, atividade, radioatividade. Deve ter sido em uma destas manifestações. Os círculos que fazem os ventidalores de teto. Não só isso, o ruído. Ele quem rompeu a minha angústia. Pausou meus batimentos também. Me fez respirar, ainda que ofegante, cansado. Ainda há muito o que fazer pela frente. E em curto tempo. Já não tenho muito, essa é a verdade. Preguiça! Preguiça de pensar o que escrever. Fadiga, inércia, falta de iniciativa. Não! ...Iniciativa eu tenho, eu planejo muitas vezes. Mas, não executo. Deixo para amanhã ou depois. De última hora... ou, então, não faço nada. Adio. Finjo que não escuto. Pulo a pergunta, saio de perto, sumo da vista. Ah! Queria tanto desaparecer... ficar invisível talvez resolvesse. Mas não insignificante. Esse estágio não é fértil. Preciso de segurança e tudo que eu penso é descaminho. Ou melhor, caminho para outras partes, artes! A abstração da forma, a liberdade, o desejo. Não essa batalha hierárquica a qual me submeto diariamente para gerar notícia diariamente. Quero um dia 36. Fora do calendário, mas com lua cheia, feito essa que sobrevoa o telhado da minha casa nesta noite estranha de princípio de calor.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Enquanto isso...

Fico pensando em coisas chatas, tão chatas, que achei melhor não reproduzi-las aqui. Para quê entediar um possível leitor deste departamento?

Queria só ter uma outra identidade durante um dia inteiro. Pensar em outras coisas, outras pessoas, outros problemas, outras palavras. "We can be heroes, just for one day", já dizia Bowie. Mas, por hora, só posso executar um outro verso da música: "I'll drink all the time".

E não vou trabalhar amanhã! Tem coisa melhor? ...Tem. Mas é melhor focar no que é possível ser feito e não no que poderia acontecer. O resto cabe ao destino. Fui...

Afundado na lingerie

E o prêmio de melhor longa-documentário, por meio de voto popular, foi parar nas mãos de Paulo Henrique Fontenelle, diretor de 'Loki - Arnaldo Baptista', que eu vi domingo passado e saí do Odeon Petrobras com a certeza de que seria o vencedor desta categoria.

Quem se animar pode ler a minha review, que foi publicada esta semana no site Revista Paradoxo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ma(i)s louco é quem me diz...



Cinema e música são as expressões artísticas que mais têm capacidade de mexer comigo. São experiências absolutamente sensoriais, que dominam todo o corpo. Imagine unidas?
Ainda estou bestificado com o documentário 'Loki - Arnaldo Baptista', de Paulo Henrique Fontenelle, que tive oportunidade de assistir ontem.

O fim dos anos 60 é, desde sempre, um período que me interessa. Desde a época da escola, na verdade. É como se eu tivesse vivido lá. Senti isso com clareza quando fui vi, recentemente, Toni Tornado cantando "BR - 3". Um arrepio tomou conta dos meus poros quando projetaram imagens do Festival da Canção. Pode ser bobagem, mas há uma conexão. E tudo se repetiu ontem diante de tantas imagens preciosas daquele período, que o filme de Fontenelle apresenta.

A vida do controverso mutante é descortinada através de depoimentos do irmão Sérgio Dias, de Tom Zé, Lobão, Roberto Menescal, Liminha, entre outros. As imagens comunicam rápido, os plots ficam bem claros: o fenômeno dos Mutantes; a saída de Rita Lee; a loucura de Arnaldo, e sua salvação. O próprio pinta um quadro ao longo do documentário, que representa objetivamente os momentos que marcaram sua vida.

Não há espaço para pieguice ou dissimulação. Todos os participantes dão seus pontos de vista com muita sinceridade. As dúvidas são sanadas. Tudo que você não sabia sobre os Mutantes e sobre a persona de Arnaldo Baptista é desvendado. A história (louca) de um grande artista, sem a menor dúvida.

Veja o trailer:

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

...Nothing like the sun


O máximo que a minha memória musical consegue resgatar é o ano de 1987, quando eu tinha 4 para 5 anos. Antes disso, eu lembro de muito pouco. Claro, tinha o primeiro LP da Xuxa, o compacto de 'A View to a Kill', do Duran Duran, que, segundo a minha mãe, eu ouvia compulsivamente.

Mas fora isso, um disco marcou a minha infância. E resolvi falar sobre ele exatamente porque hoje é um dia feliz de sol. Ingrid, uma amiga da minha mãe que mora nos Estados Unidos, trouxe o "novo" CD (é, eu tinha CD player desde 1986, tá?) do Sting, '...Nothing Like The Sun', em janeiro de 88, se não me falha a memória.

Sei que '...Nothing Like The Sun' tocou ininterruptamente durante 1 ano ou mais na minha casa. E o melhor de tudo é que, 20 anos depois, o CD existe e está intacto. Minha mãe é fã de Sting desde sempre, tem todos os discos, DVDs, acompanha. Com ela, assisti ao show de Sting no Rock In Rio III, e sabiamos, é claro, cantar todas as músicas, inclusive as do então-disco-mais-recente, 'Brand New Day'.

Mas voltemos a 'We'll Be Together'. Essa foi a faixa que mais ouvi quando era criança. Não entendia porra nenhuma. Ou melhor, sabia apenas que significava, em português, "vamos ficar juntos" e nada mais. Gostava porque era a faixa mais animada. As outras eram muito densas, introspectivas. Este é o disco que tem 'Fragile', 'Englishman In New York' e um cover de Jimi Hendrix fantástico, 'Litte Wing', entre outras.

Vinte anos se passaram e continua sendo um dos meus discos prediletos. Ele só me traz boas recordações. Da minha mãe, especialmente. Foi ela quem educou, de forma incrível, os meus ouvidos e influenciou o meu gosto musical que, modéstia à parte, é muito rico.

Nada como o sol que brilha lá fora para acalmar o peito agoniado, aquecer o coração e resgatar o sorriso. "We'll be together...tonight!".

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mecanismos


Sigo escrevendo. Que prazer interminável! E isso significa que sou alguém que (ainda) tem algo a dizer. Ou melhor, alguém que não pára de pensar um segundo sequer. Era nisso que eu estava pensando antes de me sentar em frente à tela.

São lapsos inesgotáveis de memória, preocupações, saudades e dores. E coço a cabeça. Olho para meu mural gigante, com tantas Madonnas de tantas épocas. Cada um carrega uma porção camaleônica dentro de si. Voltei da faculdade e me dei conta de que não sou o mesmo de 2005, quando ingressei lá.

Mantive muitas características, é claro, mas até o jeito de falar mudou. Os cabelos também. Consegui lembrar do primeiro dia de aula. Eu estava usando uma camisa cinza, de um tom bem escuro, quase preto. Era mais magro, bem mais magro, aliás. Naquela época, eu não comia macarrão à carbonara à 1h da manhã, eu acho (risos).

Cozinhava menos também, mas sonhava mais. Idealizava mais. Ainda carregava uma ingenuidade que foi rapidamente corrompida pelos estágios que freqüentei e pessoas pouco iluminadas com as quais cruzei. É engraçado como vamos aprendendo tantos mecanismos de defesa. Lembro sempre da Karla: "são feridas que vão criando casquinhas, chega uma hora que você criou tantas, que acaba protegido".

Realmente, é difícil eu me surpreender com alguma coisa ou alguém hoje em dia. Não preciso de mais de dois dias para sacar uma situação ou um comportamento e visualizar aonde isso vai acabar.

Uma coisa importante: a memória costumava ser melhor também, naquela época. Às vezes, esqueço o que fiz há dois dias atrás. Não deixa de ser um desapego, gosto de encarar assim. Mas o que ficou lá trás é difícil de esquecer.

E são esses pensamentos que, volta e meia, surgem, sem cerimônia. Apenas acontecem e se repetem involuntariamente. Se eu queria voltar no tempo? Acho que não. Meu presente é reflexo do meu passado. Se voltasse no tempo, costruiria outras coisas e teria que lidar com elas agora. Seria como trocar seis por meia dúzia.