"Enquanto houver champanhe há esperança" (Zózimo)
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Sem uma verdade-conclusão, sigo escrevendo com paixão sobre tudo que absorve essa existência do cão.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Constatações


Fim.
Não, na verdade é o início. Como eu já sabia de tudo que ia acontecer, fui me preparando. É um processo que utilizo há tanto tempo. Não sei quando foi a primeira vez, mas, desde que aconteceu, é inevitável. Se a previsão é de tempo chuvoso, eu deixo um guarda-chuva por perto. Ou não. Também posso me acostumar com a idéia de ficar todo molhado. Não faz muita difença. O que importa é a intuição. E a minha costuma falhar pouquíssimo. Ainda mais quando descobrimos que, quando é para sempre, sempre acaba. Um dia acaba. E se vai acontecer, é sinal de transformação.
Não consegui derramar uma lágrima. Nada. Ficou um silêncio desconfortável, uma inquietação, e só. Uma só explosão. Eu também sou desses que só explode de vez em quando. O problema é a devastação. Voa merda na cara de todo mundo. Queria explodir aos poucos, guardar menos. Mas e a tolerância. Ela reside no cerne da engolição de sapos. Tolerar significa aturar alguma coisa desagradável. Um exercício de paciência que nem Jó dá conta.
Mas eu não prometi que seria um monge. Tudo bem que posso ter agido como tal muitas vezes, mas isso não é um estágio permanente. Há adrenalina, combustão no processo. E agora? Nada de novo. Nada de especial. Tudo cotidiano, simples, funcional. Sem emoção, surpresas. As constatações são todas previsíveis, óbvias. Acho que mais nada vai me assustar. Nem vivi tanto tempo assim, mas alcancei essa comprensão tão depressa. Talvez porque tenha optado por viver intensamente em curto período de tempo. Já não sou o mesmo do almoço. Imagina aquele de antes... puro movimento.
Vamos ver para onde vai o deslocamento. Será que rola remendo? Ainda há muito o que aprender. Veremos. Saudades do futuro.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Matar ou Morrer? Matar!

Passei por novo processo 'Fênix' na semana passada. Pensei que fosse morrer, mas, não. Apenas uma parte de mim foi enterrada. De tempos em tempos, morremos em alguns aspectos. Quando uma crise se agrava, pensamos que a finitude completa poderá justificar qualquer falência interna, emocional, profissional, ou física.
Acontece que alguns pedaços são tão difíceis de serem arrancados. São coisinhas que vamos carregando e até desenvolvemos algum afeto por elas. Ainda assim, machucam. Não vamos morrer se dermos as costas à elas. O processo é de renascimento, de encontro com a vida. A felicidade.
Visitei o inferno e fui mandado de volta aos céus. Não pertenço ao lugar. Não me reconheço lá. Sei de mim na leveza, no sorriso largo, na gargalhada alta. Aquela angústia tinha que ir embora. E foi. Não precisei morrer por isso. Tive apenas que matar.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Meu Número Favorito

Semana passada, estava no ônibus no coming back to Niterói,quando, de repente, comecei a ouvir uns versos conhecidos... Era a faixa 'Três' (literalmente) do cd novo de Adriana Calcanhotto que Mary Fê copiou para mim. Não me contive, liguei para contar minha costatação e ela, sorridente, disse: "É... eu´já sabia disso. Ainda bem que não te falei, ia estragar a surpresa (risos)". Eu já gostava desses versos desde que ouvi a versão meio 'Gothan Project' que está no cd 'Lá nos Primórdios'[2006], da autora da música, Marina Lima. Diferentemente de sua versão eletrônica, a de Adriana Calcanhotto está mais easy e libertadora no arranjo do disco 'Maré' - todo cheio de referências ao mar, menina dos olhos da cantora. Delícia. E três é meu número da sorte.

TRÊS
(Marina Lima/Antônio Cícero)

Um
Foi grande o meu amor
Não sei o que me deu
Quem inventou fui eu
Fiz de você meu sol
Da noite primordial
E o mundo fora nós
Se resumia a tédio e pó
Quando em você
Tudo se complicou

Dois
Se você quer amar
Não basta um só amor
Não sei como explicar
Um só sempre é demais
Pra seres como nós
Sujeitos a jogar
As fichas todas de uma vez
Sem temer naufragar

Não há lugar pra lamúrias
Essas não caem bem
Não há lugar pra calúnias
Mas por que não nos reinventar?

Três
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com seu sexo junto ao mar

quinta-feira, 19 de junho de 2008

La Bella Luna


Tantos atritos, ressentimentos e dúvidas têm revestido esta semana da Lua Cheia. Como um astro sem luz própria consegue ampliar e aguçar tanto os sentimentos? Já ouvi dizer que, quando está cheia, a Lua exerce influências poderosas sob o humor das pessoas.
Com isso, ressentimentos adormecidos ressuscitam; a fome e a sede se tornam vorazes; o ímpeto de falar perde qualquer censura. Vivemos uma espécie de apocalipse mental, que nos joga num poço tão obscuro, molhado. As lágrimas estão todas lá, jorrando como nunca. Os excessos tornam-se permitidos por um instante. A sensibilidade é à flor da pele. Calor e frio se misturam ao longo do dia e da noite.
Já não há mais uma linha tênue para apaziguar as situações: é matar ou morrer. Mas, esse fênomeno lunar acontece apenas uma vez por mês. Se fosse todo dia, talvez não houvesse mais nada a se fazer. Ainda há: podemos, com bom humor e tolerância, perceber como somos vulneráveis às forças da natureza.
Esse desespero vai passar. A calma ainda há de retornar para reconfortar a alma e nos salvar. Basta rir para aliviar.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Agora

Tanto tempo longe de você, blog. Quero ao menos lhe falar... (risos).
Na verdade, queria mudar. Chegar com um elemento novo! Não sei se vou conseguir. Ao menos, estou acertando o que está no meio, em trânsito. Essa sensação é positiva. Às vezes, somos tão utópicos com nossos desejos e pensamentos. É uma linha tênue entre ambição e pretensão. Tem que haver um pouco de tudo, mas com compreensão. Toda a alienação que, vez por outra, ou quase sempre, procura por mim, não chega a ser algo preocupante. Lido bem com isso, com bons dribles. A sensação de estar me movimentando num eixo interessante, de forma sincronizada, mesmo com algum delay, me surpreende agora. Pode ter ficado mais fácil. Ou, então, eu quem descompliquei. Adeus às armas e ao rancor, que agora tudo vibra em furta cor.

terça-feira, 27 de maio de 2008

'Como Envelhecer com Dignidade' by Zeca Camargo

Dei uma passada no blog do Zeca Camargo ontem e encontrei este texto sobre Madonna e REM, dois artistas que eu adoro e que estão completando 25 anos de carreira. Para ler a parte que o Zeca fala sobre o REM, entre outras coisas, basta acessar um poderoso link abaixo deste texto.


"...Então vamos à tal cantora e à tal banda que estão comemorando 25 anos de carreira com novos trabalhos, e que provam que é possível sim, pelo menos no pop, envelhecer com dignidade. A cantora - “dã!” - é Madonna. Pelo próprio barulho que ela própria fez nas últimas semanas com seu “Hard candy”, ficou fácil de descobrir. Mesmo imaginando que, com uma carreira de um quarto de século (adoro colocar dessa maneira… parece tão mais tempo do que “25 anos”…), ela tenha fãs que nem eram nascidos quando do lançamento do seu primeiro disco, qualquer busca por “Madonna discografia” revela que sua estréia foi em 1983. Nessa época, óbvio, eu era não apenas nascido, como já tinha acumulado malícia o suficiente para entender o que a cantora queria dizer com “Everybody, c’mon and do your thing”, no seu primeiro sucesso.
Oficialmente, “Everybody” é de 1982. Hoje um “hit” esquecido, fica talvez difícil, para as novas gerações, entender o quão poderosa essa música era na pista de dança. Não só poderosa, mas diferente - de uma minimalismo que só seria superado anos depois com a inigualável parceria entre Missy Elliot e Timbaland. “Everybody” teria sido, porém, só uma novidade passageira, se logo em seguida não viessem outros sucessos que são, até hoje, clássicos: “Holiday” e “Borderline”. Na “febre Madonna” que tomou conta de todas as FMs da época, era sempre possível ouvir essas três faixas se revezando com outras do mesmo álbum de estréia - “Lucky star”, “Burning up”, “Physical attraction”-, de maneira que, mesmo antes de ela lançar “Like a virgin”, em 1984, Madonna já tinha sua reputação consolidada.
Por falar em “Like a virgin”… Não, não se preocupe: não vou fazer uma “discografia comentada” da cantora - algo que exigiria um fôlego do qual nem eu nem você podemos dispor agora. Aqui e ali neste blog, já pincelei momentos em que “nossa vida” se cruzou (basta digitar o nome dela no espaço “busque neste blog”, aqui à direita, para conferir) - e, para os mais interessado, no meu livro “De a-ha a U2″ descrevo em detalhes como foi meu único encontro cara a cara com ela. Nesses 25 anos, posso dizer que acompanhei Madonna com devoção suficiente para não deixar dúvidas o quanto a admiro - e, por isso mesmo, tenho fortes opiniões sobre cada um de seus álbuns e “singles”. Mas vamos pular essas duas décadas e meia para falar de “Hard candy”, seu genial - ainda que ligeiramente confuso - trabalho mais recente.
Você provavelmente ficou um pouco incomodado com o “ligeiramente confuso” do parágrafo anterior. Explico: ouvi “Hard candy” mais de uma vez, e não exatamente pelo prazer que as faixas me ofereciam. Elas são ótimas, em sua maioria, e oferecem sim aquela já esperada recompensa com a qual Madonna já acostumou seus fãs. O que me empurrou para as audições repetidas foi mais uma vontade de tentar entender para onde as músicas estavam apontando - quais eram as saídas para o pop que ela propunha dessa vez. Afinal, ela sempre vem com suas “descobertas musicais”, como se, a cada álbum, ela pescasse um produtor de vanguarda e proclamasse: “É por aqui!”. Só que, dessa vez, como descobri depois de me debruçar sobre “Hard candy”, Madonna está apontando “para trás”!
E essa é a “ligeira confusão” que ela propõe. Começando com “Candy shop” (a primeira faixa, que é, para mim, uma das melhores) ou com a seguinte, “4 minutes” (que é a faixa de trabalho), as pistas musicais são desorientadoras. “4 minutes” especialmente, já que a presença de Justin Timberlake (o chamado Michael Jackson do século 21) remete a um “rhythm & blues” “circa” 2000/2002, que não é exatamente moderno - sem falar que a introdução da música é, incomodamente, a parte mais interessante dela. Vindo logo depois de “Candy store”, que insinua novidades, “4 minutes” funciona como um agradável anestésico, que te coloca apto - ou apta - a aceitar o que vem pela frente.
Na faixa seguinte, “Give it to me”, tive a certeza de que Madonna queria olhar para o passado, mas não de maneira óbvia. Por exemplo, um pouco mais adiante, em “Miles away”, o convite para adivinhar à qual fase da sua própria carreira ela se refere - não fosse tão divertido se perder nesse labirinto auto-referente. Entre essas duas faixas, a música mais sensual de todo o disco, “Heartbeat”- e quando digo “sensual”, não estou evocando a Madonna de “Erotica”, mas aquela de “Ray of light”, que sabe que o erotismo não necessariamente está na palavra, mas sim no ritmo… E ainda tem “She’s not me” - talvez o “saco de referências” mais completo de todos deste álbum (se não me engano, tem até aquelas cordas de “Kiss”, do Prince, na mistura).
Na segunda metade do CD (sou velho - já frisei bem aqui! - e tenho esse estranho hábito de escutar um disco do começo ao fim), Madonna recorre a velhas fórmulas, em nuances menos ousadas. Com exceção de “Incredible” (que me parece realmente original), ela oferece baladas (”Devil wouldn’t know it”), ritmos latinos camuflados (”Spanish lesson”), uma canção para cantarolar junto com seu iPod (ela era boa nisso mesmo antes dessa geringonça existir - vide “La isla bonita”), e até um típico “filler” - faixa que não acrescenta nada, mas está lá para “encorpar” o disco -, em “Dance 2 night”.
Porém, ressaltando a parte mais interessante do CD, é curioso notar que, mesmo com essa enxurrada de referências “retrô”, “Hard candy” oferece uma sensação de frescor mais genuína do que a maioria das debutantes do pop dos últimos cinco anos (você sabe quem são…). Como disse o sempre instigante Jon Pareles recentemente no “New York Times”, Madonna está de volta para “revitalizar a marca”. Mas, para aproveitar seu novo trabalho, não fique procurando referências como esse fã teimoso - que quase perdeu a chance de gostar de “Hard candy” pelo simples fato de ele ser um ótimo disco..."


http://colunas.g1.com.br/zecacamargo/

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Hoje?

Semana estranha começando. O que parece fora de lugar, na verdade, não está totalmente. Mas faltam ajustes, sim. Às vezes penso que do jeito que está pode ser bom. Mas é uma ilusão. O dia em que ajustes não serão bem vindos ainda está meio longe de chegar. Ainda mais com esse cotidiano cretino tão (des)necessário. Só não podemos evitar o sonho. A resposta vem com ele.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Álcool

É tanto no sangue!
Alivia as tensões.
Vem como gangue
E traz sensações.
Todas que se quiser,
Além do que puder.
Para derrubar
Ou anestesiar
A alma de quem quer
Fugir ou se divertir,
Afundar
Ou sucumbir
Amar
Ou agredir!
É aquilo que guardou
Sem perceber.
Uma dor que ecoou
Mas não desapareceu.
Apenas estourou
Caiu
E se recolheu

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Durante

Tantos dias sem escrever. Tanta falta de tempo para aparecer. Mas foi movimentado. Esses olhos e ouvidos que a tudo observam foram bem servidos ao menos. Estréia de Caetano no Vivo Rio, Deborah Evelyn no 'Jardim das Cerejeiras' de Tchékhov. Acertos e erros. Quanta coisa eu vivi, e bem. Não me desesperei, não fui consumido pela angústia. Permaneci lúcido e sereno boa parte do tempo. Engraçado dizer isso. Quando penso em como costumava ser antes, percebo o quanto mudei. A ansiedade de dizer certas coisas praticamente desapareceu. Não sou voraz no momento de dar alguma opinião ou contar qualquer coisa. E me dou conta disso, o que é melhor. Tive alguns arrepios. Foi a interpretação tão visceral de Caetano nas músicas 'Não Me Arrependo', 'Minha Flor, Meu Bebê' (essa, de Cazuza) e 'Nosso Estranho Amor'. Bonita a participação de Jorge Mautner em 'Eu Não Peço Desculpa', com violino e tudo. A interpretação cuidadosa e sincera de Deborah Evelyn salvou o 'Jardim das Cerejeiras'. A arte é uma coisa que eleva o espírito nessa vida cheia de som e fúria.


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Depois da Banda

De volta à rotina, aos compromissos, à notícia. Depois de seis dias offline, tudo parece novo, embora tenha sabor de dejá vu. O corpo tá cansado, as dores marcam presença em algumas partes. O que seria do corpo sem alguma dores, não é mesmo? Cada uma representa um spot que eu carreguei, uma peça do praticável, alguns cabos, malas. A certeza é só uma: o sonho virou realidade. Não sem apresentar percalços, dificuldades. Na verdade, foi tudo muito mágico para mim. O cinema tem essa característica. Estar vivendo em contato com ele eleva a existência de qualquer ser-humano. Seja a minha, a de Dona Detinha - a velhinha que gentilmente cedeu a casa para a filmagem -, ou da cidade de Paracambi, hoje cenário de um curta-metragem. A banda passou e, como na música de Chico Buarque, transformou tudo à sua volta e depois nos devolveu a mesma realidade de antes. Só que com uma nova percepção. Se a vida continua a mesma no trabalho, em casa, ou em qualquer lugar, dentro de cada um aconteceu uma mudança. Foi positivo. Essa é uma compreensão que já guardo em mim. Um projeto tão antigo, tão idealizado, aconteceu. Esparamos tanto por esse dia. Leila esperou por ele, sobretudo. Agora, está registrado na película. Quando eu estava vivendo o despespero na quarta-feira da semana passada, tocou 'Bete Balanço' no rádio do furgão do Geraldo. O verso? "Quem tem um sonho não dança", por Cazuza. A partir dali, tudo ficou clarividente.


sábado, 26 de abril de 2008

Caveirão

Muitos desfilaram seus esqueletos
Carne podre e ossos
Exibiam a precariedade da existência
Espetacularização da morte
Contingência da vida.

Por Fernando Scarpa

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Positividade

Há uma semana do sonho acontecer, só me permito a pensar em coisas positivas. Mesmo com toda a pressão, as dificuldades, angústias, não desisto. Afasto de mim esse cálice de neurose e desespero e me acalmo no íntimo da madrugada. Mentalizo, sinto, entendo. E nesse processo tantas vezes tortuoso, consigo encontrar alívio e forças para seguir e continuar sonhando e realizando tantas outras coisas. O que tem me distraído é a música 'Miles Away', do brand new 'Hard Candy', disco de Madonna que será lançado oficialmente dia 28. By the way... sabia que vida fica mais bonita com lentes Ray Ban?

'Miles Away'

I just woke up from a fuzzy dream
You never would believe those things that I had seen
I looked in the mirror and I saw your face
You looked right through me, you were miles away

All my dreams they fade away
I'll never be the same
If you could see me the way you see yourself
I can't pretend to be someone else

You always love me more, miles away
I hear it in your voice, we're miles away
You're not afraid to tell me, miles away
I guess we're at our best when we're miles away

So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away

When no one's around then I have you here
I begin to see the picture, it becomes so clear
You always have the biggest heart,
When we're six thousand miles apart

You always love me more, miles away
I hear it in your voice, we're miles away
You're not afraid to tell me, miles away
I guess we're at our best when we're miles away

So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away...

(Madonna/ Justin Timberlake)




Minha review do disco em: http://www.revistaparadoxo.com

domingo, 13 de abril de 2008

A Morte dos Laticínios

Eu pensei que o susto tinha passado. Estava para escrever desde quarta-feira, mas ainda não tinha encontrado a hora certa. E talvez nem escrevesse mais sobre isso. Mas, um novo acidente de carro me motivou. Percebi a morte tão perto esses dias. Rondando mesmo. Ela, que é o avesso da vida, possui o relógio mais preciso que há. Não tem pilha que descarregue, mas, às vezes, algum artíficio é capaz de atrasá-lo (pelo menos um pouco) ou adiantá-lo. Força divina? Tem o toque, sim. Outros, preferem acreditar que as pessoas já nascem com o prazo de validade. Como se fosse aquele carimbo que vem no fundo de um copo de requeijão. Uma vez morto, o ser-humano torna-se apenas um objeto, um corpo. E fede. Exala quase o mesmo odor de um requeijão vencido. Azedo. E deixa tristeza. Se não é a do guloso pelo copo de requeijão, é a da família e dos amigos pela perda do ente tão querido. Não faz mais diferença: quem fica é quem sente. E só.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Dreams Come True

Quando eu volto no tempo e consigo me lembrar das coisas que um dia sonhei, não sinto vontade de voltar àquela época. Os sonhos aconteceram. A vida seguiu o rumo e, para minha felicidade, mesmo com tantos atalhos, desvios, perdas, consegui realizar muitos deles.
Lembro de quando via TV antes de ir para a escola. Normalmente, o finalzinho do 'Xou da Xuxa'. Eu nunca nunca nunca fui de acordar cedo. Detesto até hoje, embora seja inevitável algumas vezes. Sempre assisti muita TV. Hoje em dia nem um décimo do que assistia naqueles anos (87, 88, 89... 2000). Foram quase 15 anos de muitas novelas, programas infantis, sessões da tarde, Jô, Chico Anysio, Hebe, Bozo, Sílvio Santos... até Sérgio Malandro. E, com isso, a minha vontade de um dia ter o meu próprio programa de TV. Era o sonho de criança. Sempre foi, embora tenham surgido outros sonhos.
Quando eu menos imaginei, ele se realizou. Não sem antes um outro acontecer: atuar e estar em cima de um palco. Esse sonho veio depois do sonho do programa de TV, e se concretizou primeiro. As coisas têm sempre uma razão de ser. Palco realizado, foi ele que viabilizou e me ajudou a apresentar os programas 'Janela Indiscreta' e 'Ultra POP', no canal a cabo 36, NET (Niterói/ São Gonçalo), com o empurrãozão da minha mãe e de Luiz Antonio Mello, facilitador. O primeiro programa, muito mais especial, era sobre o mundo do cinema, como o título já entrega. Nele, eu pude produzir especiais, mostrar, através de tantas imagens, padrões de vida, situações cotidianas, fantasia. Tudo aquilo que só a sétima arte é capaz de oferecer.
A música veio depois, com o segundo programa. Bandas, artistas, tudo que eu sempre ouvi a vida inteira ganhou vida (em formato MTV). Acabei realizando um mesmo sonho de duas formas. E tanto o cinema quanto a música renderam outros tantos. Um deles eu achei que jamais fosse realizar: cantar. Sempre fui desafinado, nunca gostei muito da minha voz. Mas, aconteceu também. Numa noite louca, véspera de uma viagem, me empolguei depois de duas caipirinhas e subi no palco (essa sensação é sempre indescritível e mágica) do Cinemathéque, e fui cantar 'Rebel Rebel', com a benção de seu autor, o camaleão David Bowie. Érika Martins, por total acaso, virou madrinha do acontecimento. Ela estava com o 'Chuveiro in Concert', grande karaokê ao vivo. Eu não desafinei. Lembro de pouca coisa. Sei que desci do palco e as pessoas me aplaudiram muito e vieram falar comigo. Eu só conseguia dizer que não sabia o que tinha acontecido. E duvidei de todos aqueles elogios. Mas parece que foram reais, pois fui convidado para uma outra ocasião: show de abertura do Lobão, no Morro da Urca. No segundo palco, outro 'Chuveiro in Concert' estava programado. Com muito medo de errar, cantei a mesma 'Rebel Rebel'. A essa altura, o sonho tinha virado realidade. Nunca tive ambição de nada maior. Eu apenas queria poder cantar uma música um dia.
E agora me resta o cinema. A fábrica de todos os sonhos vai me dar um outro prazer. E a pessoa responsável por isso não poderia ser mais amada: Leila Barreto. Por causa da constatação de todos esses sonhos e tantos outros, também não posso deixar de dizer que um dia uma entidade espiritual me disse que meu destino estava atrelado à comunicação. Não é à toa que trabalho em jornal, hoje em dia (a culpa é de Karla Rondom Prado), depois de passar por TV. E também não é à toa que realizei um outro sonho: o de ter o meu telefone, a minha mesa, o meu computador, no trabalho. Tudo meu, com as minhas fotos. Não podemos esquecer dos pequeninos, porque são cotidianos. Acontecem apenas. É involuntário. Mas, o melhor está por vir. Sempre está por vir. Não sou saudosista. Só tenho saudades do futuro.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Uma Revolução?

Os pensamentos psicóticos não param de aflorar durante a tarde. Quando será que vão parar de atordoar? Normalmente, são as pessoas que provocam esse tipo de confusão. Mas, desta vez, é evidente o problema interno. Nao há culpas. Ninguém ganhou esse título. O de elemento externo torturador e entregador de angústias. Vem de dentro. Essa agonia. Agonia de quê?
Dúvida. Cansaço. Preguiça. Sentimentos tão comuns, ordinários. Ansiedade pelo que vem. Uma mudança radical se apresenta. Talvez seja o ano novo astrológico. Ou a erupção de um vulcão adormecido. Que exploda de uma vez.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Sorte

Quando tudo indica que o dia vai ser complicado e as obrigações começam a bater incessantemente à sua porta, o elemento sorte surge (nem sempre, mas quando acontece, é ótimo) e faz tudo funcionar com leveza. Aquela leveza do post de baixo. Lembram? Aquela que é sustentável e tão necessária (para mim). Às vezes, surge uma dúvida, uma angústia na minha cabeça: por que meus temas se repetem tanto? Tudo que eu escrevo é resultado de uma comparação entre a leveza e a dureza da vida. Ora leve, ora pesada, essa vida tão ridícula é alvo de posts queixosos às segundas, e divertidos às quintas. Para mim, são dias-da-semana-divisores-de-águas. Eles compreendem as zonas de humor. E as minhas risadas tão peculiares, tão perseguidas e, ainda assim divertidas, continuam servindo de base para mascarar todo o sofrimento que eu posso vir a ter. Mas com a sorte é diferente. Normalmente provida de boa índole, é muito difícil causar transtorno. O único sentimento maligno que a sorte pode causar é aquele que todo mundo costuma negar a existência: I-N-V-E-J-A. Uma palavra estranha, com três vogais, três consoantes, e um alvo preciso: V-O-C-Ê. Mas a minha sorte de hoje é ter a sorte de ninguém saber que hoje eu tive sorte. Enquanto pensava que tudo seria dificil, impossível, chato e improvável, alguns sinais surgiram e aceitei-os sem pestanejar. Fui contrariado com louvor. Mas, não podemos contar vitória antes do fim da batalha. Essa semana (ainda) conta com outros cinco dias.

segunda-feira, 17 de março de 2008

A Sustentável Leveza do Ser

O fim da chuva e do plantão do fim de semana me trouxeram um bem-estar inacreditável em plena segunda-feira. Estranhamente (ou seria, naturalmente) tudo encontrou forma (simples). Eu tinha certo receio em começar tudo de novo. Ou melhor, continuar. Agora, a maratona só termina sexta-feira. Mas sei que sobrevivi. Quando conversei com Tuca hoje à tarde, descobri que havia um rastro de felicidade. Não só a dela, tão plena. Eu, com todas as minhas dúvidas, angústias e preguiças, estava feliz. Fiquei leve. Acho que é o estado de espírito que mais me apetece ultimamente. Já não busco tantos outros sentidos, só não dispenso a leveza. E quando isso acontece involuntariamente é ainda mais interessante, porque significa que eu, com toda a maluquice que carrego, arrumei uma forma, ainda que precária, de organizar os meus sentimentos. De viver de acordo com o que acredito e acho certo. Pronto, e não mais danificado, sigo em frente, falando até em polonês.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Ja mieszkac w tym domu

Encantado com as barreiras da linguagem que são rompidas pelo ser-humano. Independentemente dos idiomas, há coisas que ninguém sabe explicar. Larisa, minha amiga da Polônia, chegou terça-feira. Animadíssima, ela ainda está extasiada com as belezas do Rio e de Niterói, principalmente. Estuda espanhol na faculdade e também faz aulas extras de português. Aprende tudo com muita facilidade, é alegre e fala inglês como poucos. É nessa língua que estamos nos comunicando. Embora ela tenha todo esse leque poliglota de opções, Marlene, que trabalha na minha casa há anos, não teve a mesma oportunidade. Perto de completar 60 anos, ela até hoje não sabe ler, nem escrever. Muito menos falar em inglês. Mas, compreendendo a situação e percebendo que temos uma adorável hóspede em casa, ela consegue se comunicar, ser educada e gentil, o que pouquíssimas pessoas, hoje em dia, sabem ser. E nessas horas, todas as palavras se tornam tão inúteis. Apenas os gestos, o sorriso, o afeto, importam.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Blues da Piedade

A segunda-feira acabou de começar. Cheguei do dentista. Tinha uma consulta marcada - ou melhor, trocada - para hoje. Também começo a me preparar para a nova turnê. Se fossem 12 shows, a voz seria uma preocupação. Mas, no meu caso, a voz, embora necessária, não é o mais importante, ainda que ninguém consiga me calar. Eu vou conseguir trabalhar, mas acho que não vou desistir de reclamar. A irritação já começa quando penso nas pessoas que estão desgraçando suas vidas por qualquer ninharia afetiva.
"Don't go for second...", canta Madonna em 'Express Yourself'. Na música, ela fala sobre a precariedade afetiva e faz um apelo ao bom senso, pregando que não devemos nos contentar com migalhas e sim com alguém que tenha estrutura para nos colocar no alto, o que deveria ser sempre um princípio básico. Ou não? Ainda mais quando a história se repete mais de uma vez.
"Já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada...", de Chico Buarque e Tom. Quanta sabedoria! Mas na prática, só idiotice. O sintoma não cansa de se deslocar, roubar situações, regredir, enganar. E como numa velha arapuca, passa uma rasteira naqueles que tem uma alma fragilizada, danificada por pequenos traumas.
Não estou falando de mim, exatamente.
Falo sobre tudo que observo. Esses olhos ordinários enxergam demais, compreendem demais. Mais até do que deveriam. E aí, penso na ignorância. Na facilidade que ela proporciona. No equívoco tão estúpido, fácil. Quando temos placas em linha reta ao lado dos olhos, vemos por uma mesma direção tão precisa, única, que eu, sinceramente, não consigo suportar. É alguma coisa que me corrói. E aflito, não consigo me calar.
Não consigo deixar de expressar o meu desgosto com a cegueira. Ela já me pegou uma vez. Mas me desvencilhei. Sim, voltei a enxergar. Recobrei os sentidos. E agora estou pronto não só para detectar tudo o que acontece comigo, quanto para denunciar aquilo que não presta. E assim sigo matando por aí a mesquinharia humana tão desgraçada e sovina.

"Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde..." (Cazuza/ Frejat)